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Marginalização - Refletindo o conceito
Ouvimos muitas coisas sobre ”marginais”, “marginalizados”,”os que estão à margem
da sociedade” desde que começamos a prestar mais atenção nas conversas dos adultos, a assistirmos telejornais,Lê-los
etc, mas será que a forma como nos foi “passada” a compreensão deste conceito é realmente válida? Será que o “marginal”
é alguém que escolhe a exclusão? Será que só existe uma compreensão e/ou significado para esta palavra? Antes de qualquer
coisa devemos recorrer aos dicionários da língua portuguesa: Algumas definições de marginalização e dos seus substantivos
derivados segundo os dicionários da língua portuguesa pesquisados :
Marginalização: Discriminação; Afastamento. Marginal: Da margem ou relativo a ela; que vive a margem da sociedade,
pária, bandido;desocupado. Marginalizado: Discriminado; afastado. Marginalizar: Discriminar; afastar.
Ao falarmos em marginalização devemos esclarecer-nos também sobre o que significa exclusão para que possamos
construir pontes relacionais entre os dois conceitos, no sentido atual que a sociologia a ele confere, já que somente as definições
encontradas nos dicionários, nos discursos elitistas não nos bastam. Há indícios de que o conceito de exclusão tenha aparecido
na França, ainda nas décadas de 1950/60, quando cientistas sociais tiveram sua atenção despertada para o aumento das populações
situadas fora do mundo do trabalho, constituindo uma pobreza que os economistas classificavam como “residual”.
Nessa época, começa a tornar-se visível o empobrecimento acentuado de uma parte considerável da população francesa em relação
à prosperidade de uma outra parte.
EXCLUSÃO O QUE É ISSO ??? A exclusão social pode ser encarada como um processo sócio-histórico caracterizado
pelo recalcamento de grupos sociais ou pessoas, em todas as instâncias da vida social, com profundo impacto na pessoa humana,
em sua individualidade. Outro conceito de exclusão social aplicável à realidade de uma sociedade capitalista como a nossa,
é que "excluídos são todos e todas que não participam dos mercados de bens materiais ou culturais". Não é uma falha, uma característica
do processo capitalista, ou de outro regime político-ideológico: a exclusão é parte integrante do sistema social, produto
de seu funcionamento; assim, sempre haverá, mesmo teoricamente, pessoas ou grupos sofrendo do processo de exclusão, podemos
aqui nos referir aos homossexuais e aos transsexuais e travestis. Os conceitos de marginalização e de exclusão estão intrinsecamente
ligados.
Outra definição para exclusão:
“... uma impossibilidade de poder partilhar, o que leva à vivência da privação, da recusa, do abandono
e da expulsão, inclusive, com violência, de um conjunto significativo da população - por isso, uma exclusão social e não pessoal.
Não se trata de um processo individual, embora atinja pessoas, mas de uma lógica que está presente nas várias formas de relações
econômicas, sociais, culturais e políticas da sociedade brasileira. Esta situação de privação coletiva é que se está entendo
por exclusão social. Ela inclui pobreza, discriminação, subalternidade, não equidade, não acessibilidade, não representação
pública..." (Aldaísa Sposatti, 1996 - Assistente Social, Secretária de Bem Estar Social da Prefeitura de São Paulo neste período).
Devemos ressaltar que dois aspectos primordiais são considerados como base da cidadania: a possibilidade de
acesso de toda a população a um determinado padrão de qualidade de vida comum de um referido grupo social, e às possibilidades
objetivas da população decidir sobre os destinos e os rumos da sociedade em que vivem.Essa condição mínima para as pessoas
conseguirem uma qualidade de vida aceitável dentro dos parâmetros de cidadania vai além da manutenção da vida orgânica, dada
pela satisfação das necessidades alimentares e nutricionais elementares, estando também intimamente ligada à obtenção de renda
e de educação com qualidade, pois sem esses princípios a inserção na sociedade e no mundo do trabalho torna-se precária. Ainda
deve-se lembrar que a falta de participação política torna os indivíduos submissos a uma dimensão do destino enquanto condição
inabalável, que despolitiza as relações sociais e remete a solução dos problemas a uma esfera insuperável, sobre a qual os
indivíduos perdem a capacidade de controle, situando-se fora do domínio da história, ou seja, à “margem dela”.
Tanto a aceitação do destino, a fatalidade, o não acesso pela falta de renda aos bens materiais e simbólicos que a sociedade
pode oferecer, são formas expressivas de manifestação da exclusão social. Na sociedade atual, o Estado seria o responsável
pela função redistributiva, pois ele deveria assegurar as políticas globais e articuladas como moderadoras das desigualdades
sociais e econômicas e de responder aos aumentos das demandas no contexto de uma maior divisão do trabalho e expansão do mercado,
na sociedade das massas. A educação, deste modo é dever do Estado e direito do cidadão, pois sendo concebida como valor social,
reflete-se como instrumento da sociedade para efetivar o processo de formação e construção da cidadania assim como a saúde,
a segurança dentre outras necessidades básicas. O adjetivo "gente marginal" transforma-se em substantivo que classifica um
grupo, "os marginalizados", e pode ser utilizado no feminino, "à margem"; no masculino, "marginal"; e mesmo como neutro, "marginal",
para acabar por designar um processo, "a marginalização" e os que a sofrem ou os que digamos a procuram. Estes seriam os que
estão “afastados do centro”, mas estão dentro da página da história. Uma margem geográfica e incômoda que podia
identificar os que partiram das cidades para viver em comunidades, os estudantes revoltosos, o número crescente de insubmissos,
os que não se conformam com os valores e costumes dominantes e que, por vezes, procuram formas de vida mais ou menos alternativas
(Castel, R., 1996). É assim que estas palavras vão ser utilizadas, em parte, para (des)classificar os movimentos populares
de insatisfação, porque não são representativos, porque se afastam na sua inconformidade dos núcleos centrais. No entanto,
a palavra marginalização continua a ser utilizada para expressar o processo pelo qual passam, determinados grupos jovens em
busca de trabalho, indivíduos situados abaixo da linha da pobreza dentre outros grupos que foram de alguma forma excluídos
dos processos sociais,economicos e culturais de desenvolvimento, afastados do centro nervoso das chamadas ”realizações”
e “conquistas”. Neste sentido, o marginalizado seria um ponto intermediário, uma fase mais ou menos passageira,
entre a integração e a exclusão mais definitiva, combinando-se também uma marginalização "voluntária" e outra imposta. Na
América Latina, o conceito da marginalização surgiu nos anos de 1950 para indicar os habitantes das favelas, das colônias
e dos pequenos ranchos, resultantes das migrações massivas, em direção às grandes cidades em busca de melhores condições de
vida. Mas de forma diferente do que acontece na Europa, estes marginalizados não escolheram a sua marginalização, não são
“marginais” por opção, ou por terem cometido algum tipo de crime, dado que constituem uma maioria crescente da
população, nem participaram na economia central e formal, nem sequer existem muitas esperanças relativamente à sua possível
inserção em curto prazo nas condutas culturais, sociais e econômicas dominantes. São uma conseqüência da crescente dependência
interna e externa e da voracidade do sistema capitalista, e acabam por desencadear um aumento do setor informal, dos moradores
de rua, da favelização, da criminalidade dentre outros problemas sociais relacionados a falta de oportunidades, de inserção
no mundo do trabalho etc. Este conceito foi elaborado na década de 1970 no seio da Organização Internacional do Trabalho.
Até certo ponto, a revalorização posterior deste setor informal deslocou a categoria marginalização, que até então era diretamente
relacionada à um olhar depreciativo do poder para um “local” mais “flexivel”. No final dos anos de
1970 e início dos de 1980 ( a década perdida economicamente), aqueles que viviam à margem desapareceram das páginas dos jornais
e das preocupações da ordem pública, enquanto que, ao mesmo tempo, aumentaram as capas com aqueles que iam sendo vítimas das
conseqüências da crise econômica e, muito especialmente, da remodelação do mercado de trabalho. Isto afetou populações que
nunca haviam pensado ser afetadas pela precariedade. Talvez as figuras mais representativas do que se chamou de "nova pobreza",
que eram os trabalhadores qualificados expulsos do seu trabalho devido às reconversões industriais e às alterações tecnológicas;
alguns pequenos empresários, comerciantes, artesãos e profissionais sem possibilidade de adaptação; pessoas, especialmente
mulheres, que tendo responsabilidades familiares não podiam obter trabalho ou que o perderam; pessoas que se endividam para
além das suas posses. Não se tratou de indivíduos inconformistas como no caso da concepção européia; ou inaptos para o trabalho
e sem relações sociais; são, sim, pessoas com dificuldades relacionadas com o emprego e com os seus rendimentos, com as mudanças
no sistema capitalista neoliberal que difundiu a criação de um enorme exercito de reserva para assim ocorrer o enfraquecimento
dos sindicatos e a consequente queda dos valores salariais, no caso brasileiro a situação ainda é muito pior, pois se trata
de um país de capitalismo periférico, modernização tardia e onde ocorreram tentativas de adequação e/ou acompanhamento de
paises capitalistas desenvolvidos. Na realidade, esta perspectiva da nova pobreza foi submetida à duras críticas por parte
dos que lhe atribuíam uma utilização política, um desvio em relação à pobreza estrutural e permanente, um disfarce de origem
neoliberal, com um regresso às práticas de assistência social de tipo individual e que acabou por ser rapidamente ultrapassada
pelo conceito de exclusão.
Vejamos agora no que consiste cidadania
A cidadania tem dois aspectos: o institucional, porque envolve o reconhecimento explícito e a garantia de certos
direitos fundamentais, embora sua institucionalização nunca seja constante e irredutível; e o processual, porque as garantias
civis e políticas, bem como o conteúdo substantivo, social e econômico, não podem ser vistos como entidades fixas e definitivas,
mas apenas como um processo em constante reafirmação, com limiares abaixo dos quais não há democracia. A cidadania expressa
um conjunto de direitos que dá à pessoa a possibilidade de participar ativamente da vida e do governo de seu povo. Quem não
tem cidadania está marginalizado ou excluído da vida social e da tomada de decisões, ficando numa posição de inferioridade
dentro do grupo social, Os direitos que temos não nos foram conferidos, mas conquistados. Muitas vezes compreendemos os direitos
como uma concessão, um favor de quem está em cima para os que estão em baixo. Contudo, a cidadania não nos é dada, ela é construída
a partir da formação dos conceitos e princípios de nossa nação e conquistada a partir da nossa capacidade de organização,
participação e intervenção social.
Aqueles que estão excluídos do exercício pleno de sua cidadania, que estão excluídos das condições minimas de
subsitencia que um individuo precisa para sobreviver, que estão excluídos do mundo do trabalho, da educação de qualidade,
da segurança pública, do direito ao atendimento médico gratuito e de qualidade, do direito de adquirir bens materiais mesmo
os mais simples e acessiveis, são os marginais, os marginalizados pelas sociedades capitalistas neoliberais...E os telejornais
ainda propagam a explanação do presidente neste finalzinho de 2007 falando sobre o espetáculo da economia brasileira...E mais
ainda alardam que para ocoércio este foi um dos melhores “natais” dos últimos 5 anos, para que consumidores? Todos
os desempregados estão consumindo? Os indivíduos que se encontram abaixo da linha da pobreza compareceram aos shoppings? É
bem oportuna uma reflexão sobre estes conceitos neste momento, alíás não só neste moento é claro, mas se faz necessária uma
reflexão por parte dos grupos que sempre foram excluídos das bases do poder, dos verdadeiros marginalizados, a violência só
aumenta, estimulada pela crescente e alarmante desigualdade...
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Samba do Avião
Tom Jobim
Composição: Antônio Carlos Jobim
Eparrê Aroeira beira de mar Canôa Salve Deus e Tiago e Humaitá Eta, costão de pedra dos home brabo do mar Eh,
Xangô, vê se me ajuda a chegar
Minha alma canta Vejo o Rio de Janeiro Estou morrendo de saudades Rio, seu
mar Praia sem fim Rio, você foi feito prá mim Cristo Redentor Braços abertos sobre a Guanabara Este samba é
só porque Rio, eu gosto de você A morena vai sambar Seu corpo todo balançar Rio de sol, de céu, de mar Dentro
de um minuto estaremos no Galeão Copacabana, Copacabana
Cristo Redentor Braços abertos sobre a Guanabara Este
samba é só porque Rio, eu gosto de você A morena vai sambar Seu corpo todo balançar Aperte o cinto, vamos chegar Água
brilhando, olha a pista chegando E vamos nós Pousar...
"Tudo o que penso vem da sociedade"
Fonte: JB On Line - 20/08/2008 Alexandre Werneck
Em 1976, o candidato Ariano Vilar Suassuna se apresentava diante de uma
banca na Universidade Federal de Pernambuco. Sobre a mesa, o texto A onça castanha e a Ilha Brasil – Uma reflexão sobre
a cultura brasileira. Apesar do título, não era mais uma peça do autor de Auto da Compadecida. Era sua tese de doutorado.
O escritor paraibano, que trouxera ao mundo não apenas a saga de João Grilo e Chicó (1957) como também O romance da Pedra
do Reino (1976), pleiteava uma vaga para dar aula na UFPE e, ali, defendia aquele que ele próprio define como seu "único trabalho
mais sistemático para uma teoria sobre a cultura brasileira". Modéstia. Neste momento, aquele texto, uma preciosidade, está
finalmente sendo revisto por Suassuna, para ser publicado em livro em breve. É fácil olhar para toda a produção do autor e
ter a impressão de que o subtítulo de sua tese poderia subscrever qualquer um de seus trabalhos. Vejamos, por exemplo, o Almanaque
armorial, que tem lançamento (da mesma José Olympio que publica sua obra literária) hoje, às 20h, com presença do autor, na
Livraria da Travessa do Centro Cultural Banco do Brasil.
Trata-se de uma coleção de artigos, ensaios, discursos e outras intervenções
do criador do movimento que cede o nome ao Almanaque e que tinha como fim criar uma arte erudita legitimamente brasileira
inspirada na cultura popular do país. Em 25 textos, publicados em jornais, livros, revistas ou simplesmente apresentados oralmente,
entre 1961 e 2000, salta aos olhos não apenas seu interesse em pensar a literatura do Brasil e do mundo – como fica
claro em textos como Dostoiévski e o mal – mas sobretudo um olhar digno de uma teoria... sociológica.
– Tudo o que penso vem da literatura, mas vem principalmente da sociedade
– diz Suassuna, de 81 anos. – A sociedade sempre foi a fonte para fazer uma literatura que não imite a Europa
ou a América do Norte. Não por xenofobia, mas porque quero fazer uma literatura diferente. O ser humano é o mesmo em qualquer
parte, mas o importante é ser o mesmo com uma ótica local.
Críticas a Gilberto Freyre
A voz foi quase perdida em mais uma das aulas-espetáculo que se tornaram
seu sacerdócio nos últimos anos – o que se repete no Rio amanhã, às 18h, no evento Embaixada de Pernambuco, no Solar
de Santa, em Santa Teresa, Zona Sul do Rio.
Um dos textos mais impressionantes da compilação, feita pelo pesquisador
pernambucano Carlos Newton Júnior com a idéia de juntar num mesmo volume textos inspirados no movimento criado por Suassuna
em 1970, é Teatro, região e tradição, de 1962, feito para o livrinho Gilberto Freyre: Sua ciência, sua filosofia, sua arte,
comemorativo aos na época 25 anos de publicação da obra máxima de Freyre, Casa grande & senzala. No texto, Suassuna critica
severamente uma certa corrente das ciências sociais brasileiras, que simplesmente repetiriam o pensamento de Freyre sem reconhecer
em seu interior as variações que o próprio autor se permitia. Mas o centro do texto é mesmo uma crítica ao pensamento freyreano,
uma análise do Brasil a partir da miscigenação e do espelhamento entre a morada dos senhores e a dos escravos.
Por isso mesmo, impressiona ver um autor teatral e romancista tomar uma
posição tão determinada contra uma visão teórica. Dos artigos do Almanaque o salto no tempo para a antiga tese junta as pontas
da mesma tomada de posição sobre a corrente que analisa o país como um democracia racial calcada no igualamento entre as raças,
quando ele aposta numa diplomacia racial centrada justamente na diferença. Se, no primeiro, o debate surge em vários textos,
como o analítico Canudos, nós e o mundo ou o Discurso de posse na Academia Brasileira de Letras (1991), no segundo, que Suassuna
promete colocar de volta no papel assim que seu aguardado novo romance estiver pronto (o que está juramentado para este ano),
a análise é bem mais minuciosa e atravessa tradições literárias e culturais de várias esferas do pensamento brasileiro.
Talvez, então, o principal resultado da revisão da tese – que começou
já logo depois da banca – foi a mudança do título. A onça, que era castanha, virou malhada. A imagem do animal de tom
pardo era inspirada na leitura à Euclides da Cunha de um Brasil forte porque miscigenado, mulato. Para ele, era mais importante
deixar claro que o brasileiro traz em si partes do negro e partes do branco (malhado, portanto), e não uma mistura criadora
de uma terceira etnia. A malhalidade de Suassuna é uma crítica sociológica:
– A morenidade de Gilberto Freyre, de Manuel Oliveira Lima e de Silvio
Romero (duas fortes influências de Freyre) é racista. Se sugere o enegrecimento do branco, ao mesmo tempo exige o clareamento
racista do negro. E o que há de mais bonito no Brasil é a convivência de elementos dessas duas cores.
Se se posiciona, entretanto, tão claramente em termos teóricos, ele concorda
com seus críticos:
– Muitos me atacam por falta de consistência científica. E falta
mesmo. Não procuro por isso. Faço ensaio, um gênero livre, mas que, ao mesmo tempo, se aproxima um bocado da antropologia
cultural.
"João Grilo não é Macunaíma"
O que não significa que ele concorde com várias leituras que são habitualmente
feitas de sua obra. Por exemplo, a comparação habitual entre sua cria mais importante, João Grilo, o ardiloso protagonista
de Auto da Compadecida, e Macunaíma, de Mário de Andrade, tido como o personagem-síntese do brasileiro:
– Se Macunaíma era um herói sem caráter, eu digo que João tem todo
o caráter do mundo. Criei-o para ser um grande herói brasileiro, aquele que vence os poderosos com sua astúcia. Não admito
que ele seja reduzido ao papel de malandro. Ele não é malandro, é astuto. E sempre digo, e repito agora: a astúcia é a coragem
do pobre.
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